Pra Aprender, Você Precisa Parar de Estudar
Como voluntariamente não estudar pode te ajudar no seu aprendizado.
Imagine o seguinte cenário: Você tá numa prova e aparece uma questão que você não consegue resolver de jeito nenhum.
Você pensa, pensa, pensa e nada. Chega uma hora que você desiste.
Você sai da prova, tá voltando pra casa — no ônibus, no carro ou a pé — quando de repente a resposta da questão bate bem na sua cara.
Acho que você não precisa imaginar — com certeza isso já ocorreu na sua vida. Agora por quê?
Na edição de hoje eu quero explicar esse fenômeno e como você pode usar ele a seu favor na sua rotina.
Dica: Às vezes parar de estudar faz bem.
Nosso Cérebro Tem Dois Modos
Esse conceito foi discutido pela brilhante Barbara Oakley, professora de engenharia da Oakland University em Rochester, Michigan e Ramón y Cajal, e autora do livro Aprendendo a aprender: Como ter sucesso na escola sem passar o tempo todo estudando.
Nosso cérebro tem dois modos: o modo difuso e o modo focado. Vamos falar um pouco mais deles.
Modo Focado
O modo focado é aquele que você usa nas provas.
Consiste em um estado mental de muita concentração voltado pro raciocínio lógico, em que o córtex pré-frontal é ativado, usado em tarefas como memorizar um conteúdo, fazer um cálculo ou escrever um texto.
E aqui vem o mais importante — segundo Barbara, esse modo cerebral se baseia em padrões neuronais familiares. Ou seja, ele funciona muito bem pra um conteúdo que é consolidado no seu cérebro ou pra fazer um procedimento que você já fez várias e várias vezes — pra outros casos, nem tanto.
Modo Difuso
O modo difuso é quando você tá lavando os pratos.
Ele acontece quando relaxamos a atenção fazemos tarefas que não exigem muito do cérebro, ativando assim várias áreas do nosso córtex.
E pra que ele serve? Bom, pra fazer conexões criativas, pra absorver e compreender o conteúdo estudado e resolver problemas complexos.
Acho que você já entendeu onde eu quero chegar.
O Momento Eureka do Cientista
Baseado no entendimento desses dois modos, dá pra entender como Arquimedes descobriu a densidade.
Ele tava na sua banheira e a água derramou assim que ele entrou.
Com isso, ele fez uma conexão criativa e assim relacionou esse fenômeno com outros conhecimentos de física e descobriu a densidade.
Por quê? Porque ele estava no modo difuso do cérebro.
Como isso explica nossa realidade
É a mesma explicação pra quando você só resolve a questão quando tá voltando pra casa.
Seu cérebro tá no modo difuso, você gasta menos do seu cérebro e aí ele faz as conexões cerebrais necessárias pra entender a questão.
Por que não conseguimos fazer isso na prova? Porque você tá no modo focado.
Os Benefícios do Modo Focado
Não entenda o modo focado como algo ruim, ele é muito importante pra várias funções.
Só que ele é adequado pras tarefas que você já sabe exatamente o que fazer, passo a passo.
Por exemplo, se você soubesse todo o assunto da prova, você nem precisaria do modo difuso, já que seus padrões neuronais já são familiares com as informações da prova.
Se você vai fazer um experimento e já sabe o passo a passo, o modo focado serve direitinho, sendo muito melhor que o modo difuso nesse caso.
Agora, se for uma situação em que o mais importante pra você é a criatividade, correlação de informações e resolução de novos problemas, você vai precisar do modo difuso.
Entender a importância e o cenário adequado pra cada modo é fundamental pra você potencializar seus estudos.
Como Usar Isso na Sua Vida
Existem 3 formas básicas de você usar o modo focado e difuso a seu favor no seu aprendizado — que não envolvem gritar Eureka pelado na rua.
Foco + Pausas
Não, isso não quer dizer o Pomodoro.
Quer dizer que você deve focar ao máximo que você consegue nas suas sessões de estudo, mas também é muito importante você fazer uma pausa eficiente. Isso envolve coisas que não são mentalmente desgastantes, como limpar sua mesa, olhar pra natureza ou levantar da cadeira pra beber água.
Isso permite que seu cérebro fique alternando entre o modo difuso e o modo focado, deixando as conexões criativas acontecerem.
Adeque o tempo de foco e descanso pra sua realidade e veja a mágica acontecer.
Dormir é Estudar
Tem uma atividade em que seu cérebro é 100% difuso — dormir.
Durante o sono é como se tivesse alguém no seu cérebro organizando informações novas e relacionando elas com outras informações que você já tem — as conexões criativas que são tão importantes. É nesse modo difuso em que os padrões neuronais familiares são construídos, pra que você lembre deles durante seu próximo modo focado.
Não é a primeira vez que eu falo da importância do sono e com certeza não vai ser a última.
Intercale Matérias
Intercalação de matérias é um assunto que por si só já vale outra edição.
A troca de matérias durante o estudo possibilita você ter informações novas que podem se conectar no futuro. É a partir delas que o modo difuso faz as conexões criativas necessárias pra que você relacione informações, tornando elas mais consolidadas. É tipo quando você vê um conceito de Biologia Celular em uma aula de Parasitologia, ou uma Teoria de Matemática em Física.
Junte isso com as pausas durante as sessões de estudo e se torne imparável.
A Filosofia do Detetive
Quem nunca viu aquela série de Detetive que o cara descobre o assassino olhando pra uma árvore aleatória?
É isso que você pode incorporar na sua vida — menos a parte do assassinato.
Aprecie as pausas. Valorize seu sono. Faça coisas que são mentalmente relaxantes. Entenda que, quando você esbarra em algum problema, não adianta forçar seu cérebro até resolver. Às vezes vale mais a pena descansar e deixar seu cérebro resolver ele por si só.
Agradecimentos
E chegamos ao fim dessa edição! Obrigado por ter lido até aqui.
Eu espero de coração que você possa sair daqui mais informado e com uma visão de mundo um pouco diferente — esse é o meu objetivo aqui.
Aproveita e comenta aqui embaixo o que achou do assunto. Concorda com minha opinião? me conta!
Vou ficando por aqui, até a próxima!